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M80 - a reabilitação dos anos 80

O bilhete de Identidade até pode mentir… … agora o facto é que quando começamos a achar que no nosso tempo é que as pessoas se divertiam a sério “we are past!” E então quando nos dá a nostalgia da “música dos nossos tempos” não há mesmo nada a fazer: começámos a falar pela boca dos nossos pais! Deixamos de ser “geração rebelde” (pelos visto há muito tempo, e só eu é que não tinha percebido…) e passámos a “geração nostalgia” (oh my God). Quando a nostalgia é por causa dos Genesis, Jethro Tull, Police (a verdadeira causa deste desabafo), Rolling Stones ou dos Pik Floyd, ainda vá que não vá… Agora quando se é completamente geração “disco sound” e seja por causa da M80, ou lá pelo que for, e damos connosco a pensar que as matinés do Archote (!!!) festinhas de garagem e noitadas na discoteca ao som da Blondie ou dos Kool & The Gang , suponho que já não há nada a fazer – e o grande drama é não consigo deixar de olhar à minha volta quando agora (muito, muito raramente) vou a uma discoteca e achar que face a este miúdos (novíssimos(a), não têm mães?) sorumbáticos, no “nosso tempo” e com aquela música votada todos estes anos ao ostracismo e reabilitada agora pela M80, nos divertíamos muito mais. E sem pastilhas, mas comíamos melhor. Bifes. Feitos pelas mães. E salada.
A outra moral da história é que não faz mal... o drama não é "we're not getting any younger", o drama seria ter perdido o interesse...

Império à Deriva

Aqui está um livro que me custou a ler. Logo a mim que os devoro. Fui a última a acabá-lo. Que angústia! A 3 séculos de distância onde foram parar os portugueses cheios de coragem e de verve épica que nos descreve Camões? Só há uma conclusão foram-se todos embora. Com o advento dos Descobrimentos os portugueses descendentes de Viriato largaram amarras e foram-se embora. Todos. Ficaram apenas os de espinhela caída, dos quais todos nós aparentemente descendemos. Todos, menos o Manuel Alegre. (lol) Ao relermos os Lusíadas temos dificuldade em encontrar uma linha que nos conduza deles a nós. Já ao ler este Império à deriva tudo se torna claro. Com o pretexto da fuga (desde logo, venal) às invasões napoleónicas que ensombravam toda a Europa, a Corte sai de Portugal acalentado possivelmente um sonho de transferir-se definitivamente para o novo mundo. Precursores do “retour à l’âge d’Or” do século seguinte, a aristocracia portuguesa, ameaçada pela omnipresença de Espanha, sufocada por um tratado catastrófico com a Inglaterra encontra em Napoleão o pretexto que lhe faltava para implementar o sonho de deixar o território de Portugal (e entregá-lo a Espanha, por troca dos actuais Chile e Argentina) recriando no Novo Mundo um império digno desse nome… Nova Lisboa perfila-se assim como um novo D. Sebastião, mais concretizável, mas assente no mesmo espírito quimérico! Da “nesga de terra” sonha-se com a “terra prometida”. É, portanto, com este vislumbre que 10.000 aristocratas e outros dependentes da Coroa atravessam o Atlântico e durante 13 anos vivem à sombra de um reinado fraco e titubeante, mas que transforma a pouco e pouco o Rio de Janeiro: nascem a Ópera, o Paço Real e o Jardim Botânico. Mas falta de verve é isso mesmo; seja em Lisboa ou no Rio. E a frota inglesa não se limitou a escoltar a Coroa. Instalou-se. E perante o paquidérmico aparelho de Estado português, implantou-se, dominou o comércio e a intriga, o exército e a diplomacia. Perante a indecisão e a inépcias portuguesas. Ao lado de uma Rainha D. Maria, cada vez mais louca, de um D. João barrigudo e indeciso, D. Carlota que odiava cada minuto nos trópicos e de um D. Pedro impreparado e libertino surge Lord Strangford, o enviado britânico a Lisboa que brilhante e cioso dos interesses da Coroa britânica manipula a inércia portuguesa, tornando voltar a Lisboa mais difícil à medida que o tempo passa. E porque não volta a Coroa a Lisboa depois da queda do Corso? A conclusão é simples – por inércia, por falta de motivação, por preguiça. Afinal olhando hoje para a actual classe dirigente e a sua atitude face às grandes questões do país, com democracia ou monarquia, não há querer, não há vontade, não há método. Todas as energias vão sendo desperdiçadas em questiúnculas menores… Não percebo portanto como todo um país se deleita com este livro que, sendo um documentário de uma época e de toda um estado de espírito de um povo não faz mais do que confrontar-nos com a nossa própria incapacidade