Os consumos “hoje” distintivos, além de já muito efémeros pela natureza da sociedade rápida em que vivemos, poderão ser seriamente sacudidos na sua capacidade sémica em contexto de recessão económica. A teoria da acção racional não deverá ser desprezada, porque é de esperar que o preço volte a ser uma variável na ribalta para todas as classes (apesar do muito que se tentou esquecê-lo nas últimas décadas, tanto entre sociólogos como entre marketeers).
A
hipersegmentação (cara) que tem sido praticada, assente na lógica de que o consumidor está disposto a pagar muito mais para ser diferente,
deverá entrar em contraciclo por uns tempos em diversas categorias de bens e serviços; a força de muitas marcas “clássicas” sairá erodida desta revisão de prioridades e da crescente oferta das “marcas brancas” ou “marcas da distribuição” com um posicionamento de qualidade, quando o crescimento económico voltar a vigorar (naturalmente que isto será mais plausível em bens de grande consumo e menos em automóveis ou vestuário).
Mas a teoria da acção racional não deverá trabalhar sozinha; primeiro, porque o mundo de escassez em que surgiu já mudou demasiado; segundo, porque tem mais em comum com o pós-modernismo do que se possa, à partida, suspeitar. Pode vir a acontecer que, com a massificação do
“luxo acessível”, quer pelos “novos-ricos”, quer pela “nova classe média” (que é como quem diz, tanto a nível material como a nível cultural e intelectual), a fuga do status para cima se faça, algo inesperadamente…por via da racionalização (seja do preço, da
consciência ecológica, da
responsabilidade social, da defesa do consumidor ou do
faça-você-mesmo, todos aspectos já abordados pelo “expressivo” e “emancipador” pós-modernismo).
Começa a ouvir-se falar de
smart-shoppers (consumidores discricionários quanto aos items de alto envolvimento pelos quais estão dispostos a pagar mais, reduzindo custos nos de baixo envolvimento) e de estratégias low-cost (desenvolvidas a partir das possibilidades abertas pela internet, para os tais smart-shoppers) e em nenhum dos casos se pensa em massas ou em pobres: bem pelo contrário, sustenta-se que
“poor people need low prices, rich people love low prices”, ou seja, que poderão vir a ser as classes mais altas a dar o exemplo da “frugalidade selectiva” (que já é posta em prática na disciplina do corpo e da comida).