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Mulheres modernas

Deitei-me já passava das 3h, o dia anterior não tinha sido melhor… às 7 da manhã só queria fingir que sou surda. Mas não, e tá na hora de levantar e ajudar o principezinho a ir para a escola. Juro que hoje não fico a trabalhar, nem a teclar nem a ler. Hoje às 11h30 tou na cama. Boa piada! Já que me levantei vou pôr a máquina da roupa a lavar, deixar uns recados para a empregada, ainda tenho que trocar a roupa do guarda-fatos, acho que é desta que o verão se foi. Maldita chuva… tenho que tirar as almofadas das cadeiras do jardim. O que é que se vai comer ao jantar? Não me posso esquecer de comprar atilhos para as chuteiras do principezinho… meu Deus daqui a nada acaba o ano!
Queria era voltar para a cama. Hoje bem podia ficar em casa: arrumava umas gavetas, punha papel vegetal nas tigelas da marmelada, onde estão aqueles cd’s que queria ouvir? E fazia eu um jantarinho… umas courgettes com queijo de cabra gratinado.
Até podia ir beber um café à rua. Parou de chover.
Não dá. O que é que vou vestir? Sair do ponto morto, deixa ver se consigo meter a primeira: tenho uma reunião marcada às 10, não sei com quem, e outra ao meio-dia. Já estou mesmo a ver que não vou poder almoçar e vai ser uma tarde a correr. Logo tenho mesmo que ir ao ginásio, depois do jantar de ontem!
Devia era ir passear no passeio marítimo e depois comia uma tosta no Tá na Onda.
Que alguém me tivesse dado uma estalada quando comecei com as tristes ideias da independência… por isso é que a mãe se ria… nunca teve stress, punha e dispunha lá em casa, e até dormia a sesta com o pretexto de nos adormecer. E a verdade é que o pai andava todo contente. Nunca lhe passaria pela cabeça ficar a teclar na Net até às tantas!
A mãe é que sabia. Tinha tudo controlado: as filhas, o marido, as finanças da casa… e sem dramas: cozinhava, bordava, ia às compras (e agora todas sabemos que andar pelo menos meia hora todos os dias é o melhor remédio contra a celulite), tudo tão controlado que quando o maridinho chegada estava ela toda vestidinha, penteadinha, baton nos lábios “et c’était pas besoin de se casser la tête”
Só que entretanto veio alguém proclamar os direitos das mulheres e a independência e mais não sei o quê. Deviam era ter conhecido a minha mãe para saberem o que era ter direitos! Desconfio que quem começou isto foram umas feias que se assustavam ao espelho e começaram a falar da libertação da mulher, de certeza sem que nunca ninguém tenha sequer sonhado em escravizá-las.
Ou então foram os homens; sim só podem ter sido os homens quem inventou isto. É só seguir a linha de raciocínio do Poirot: quem lucrou? Os homens! As mulheres continuam a gerir a casa e os filhos, fazem a lista das compras e continuam a tomar as decisões importantes e agora sempre pagam metade das contas.
E agora com as histórias da igualdade nem precisam de se dar ao trabalho de serem cavalheiros, ou seja, corteses e bem-educados.
Claro que nós, com tanto que fazer, esquecemos o principal: de mandar convenientemente neles como tão sabiamente faziam as nossas mães e avós: aquela arte, resultante de um saber milenar de decidir o que eles iam fazer e ainda os fazer achar que eram eles quem mandava! Isso sim era inteligência! Agora cá P&L! Isso qualquer homem sabe fazer!
Não só deixamos de mandar neles como devia ser, como ainda por cima os assustamos, com tanto que fazer, tanta logística, tanta competência, os pobres sentem-se esmagados! E depois falta o tempozinho para o cabeleireiro e a boa disposição para isto e aquilo! E aparece a bruxinha que anda sempreà espreita dentro de cada mulher.
E nós que só queríamos que abrissem a porta para passarmos... E umas flores

2 comentários:

jorge-eo disse...

Se vocês mulheres não andam contentes, nós homens também não... então e se voltássemos ao que era dantes? Bora aí people!

Margarida Pedroso Ferreira disse...

Não é preciso tanto trabalho... basta abrirem a porta para nós passarmos, umas florzitas de vez em quando e assim...